terça-feira, dezembro 24, 2013

As 10 melhores imagens de 2013

o eco
http://www.oeco.org.br/capas/27879-as-10-melhores-imagens-de-2013


As 10 melhores imagens de 2013
((o))eco - 23/12/13

Todos os meses, aqui no ((o))eco, buscamos apresentar aos nossos leitores não apenas belas imagens, mas registros que tragam boas histórias, alertas e curiosidades sobre o meio ambiente. A seguir, uma seleção das imagens mais populares de 2013 entre nossos leitores. Confira!

Em meio à sujeira, o pescador de lixo busca garrafas PET e latas de alumínios. Esta foto foi tirada no igarapé próximo ao bairro de Educandos, em Manaus, pelo repórter ((o))eco Vandré Fonseca. Durante o período de cheia, o lixo acumulado fica todo boiando nos igarapés.

No meio do Pantanal, a revoada de um bando de periquitos príncipe negros (Nandayus nenday) foi registrada pelo fotógrafo Palê Zuppani. Veja o ensaio completo em Registro da fauna pantaneira feito para ((o))eco em março/2011.

O Brasil possui várias espécies de orquídeas ameaçadas de extinção. Na foto do botânico Cláudio Nicoletti de Fraga, vemos a orquídea Cattleya schilleriana. Suas flores são deliciosamente perfumadas e apresentam um forte alto. Talvez a característica mais impressionante seja a coloração dos lábios, que são brancos com detalhes magenta. O Projeto Cores, criado pelo botânico, buscou conhecer mais sobre essas belas espécies, além de desenvolver técnicas para recuperação e conservação de orquídeas em seu habitat natural.

Em 2008 o fotógrafo Carlos Secchin expôs no Jardim Botânico do Rio de Janeiro a exposição “Efêmeras florações”, onde registrou a curta floração de belíssimas plantas do cerrado brasileiro. Inspirado nas técnicas da botânica inglesa Margareth Mee, ele fez um tratamento gráfico especial para cada imagem. A foto acima é de uma Flor-do-cerrado (Calliandra dysantha), também conhecida popularmente como ciganinha, esponjinha e flor de caboclo. É considerada a flor símbolo do cerrado. Veja mais fotos da exposição.

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Esta linda tataré (Chloroleucon tortum) foi clicada na cidade paulista de Lorena por nossa leitora Vanessa Emidio. A foto foi escolhida a vencedora do concurso #diadaarvoredoeco de 2013. Como bem disse Vanessa, não tem olhos que passem despercebidos por ela. A Tataré, também conhecida como Angico-branco ou Vinhático-de-espinho, é uma espinhenta árvore da família das Fabaceae que pode atingir 12 metros de altura.

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Infelizmente o Rio de Janeiro tem servido de cenário para diversos dramas ecológicos, retratados por Custódio Coimbra, fotógrafo de O Globo, em importantes reportagens sobre a degradação de Sepetiba, Ilha Grande, Guapimirim e a Baía de Guanabara. Em Rio Cidade Água, trabalho permanentemente inacabado, ele explora as lagoas, baías e praias do Rio. Veja parte deste trabalho na galeria "Custódio Coimbra e a arte de um grande fotojornalista".

sonda Cassini é a primeira sonda construída pelo homem a orbitar o planeta Saturno. No dia 19 de julho de 2013 a sonda enviou de volta uma rara imagem. Aquele pontinho mais brilhante, logo abaixo dos anéis, é o planeta Terra. Distante 1.44 bilhão de quilômetros, nossa casa está tão longe que apenas a presença de Saturno, bloqueando a luminosidade do Sol, permitiu que a sonda apontasse seus sensores em nossa direção.

No Everglades National Park. À esquerda, podendo chegar de 5 a 7 metros e comprimento e podendo pesar 90Kg, a píton birmanesa (Python bivittatus), uma das seis maiores espécies de cobras no planeta. À direita, com cerca de 4 metros e 450 kg, o jacaré-americano (Alligator mississippiensis) típico dos pântanos do sul dos Estados Unidos.  A foto de Lori Oberhofer captura a tensão do momento, mas deixa no ar quem sairá vencedor.

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Eleito por cinco anos consecutivos como o lugar mais quente do mundo, Dasht-e Lut -- também conhecido como o Deserto de Lut -- é um grande deserto de sal no sudeste da província de Kerman, no Irã. Na superfície arenosa deste deserto tem sido medidas temperaturas tão elevadas como 70,7°C. Um verdadeiro Inferno como apontou um de nossos leitores. 

A imagem mais popular de 2013! Capturada pelo biólogo Pablo Souza em Pedra Grande/RN para o site WikiAves - A Enciclopédia de Aves do Brasil (www.wikiaves.com.br), mostra a fata de sorte de um gavião-carijó (Rupornis magnirostris) ao encontrar o seu predador, a jibóia (Boa constrictor).

domingo, dezembro 22, 2013

Marx Selvagem de Jean Tible: outro olhar sobre o velho barbudo

OP
http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/marx-selvagem-de-jean-tible-outro-olhar-sobre-o-velho-barbudo/


Marx Selvagem de Jean Tible: outro olhar sobre o velho barbudo

Germany - Karl Marx 125th obit - Busts of Karl Marx
Livro põe o dedo na ferida de uma velha “doxa” do mundo intelectual: aquela que coloca em lados opostos do ringue “marxistas” e “antropólogos”
Por Hugo Albuquerque, em O Descurvo
Marx Selvagem, vetusta tese de doutorado de Jean Tible, finalmente deveio livro. Seu lançamento, no Teatro Oficina da trupe do antropofágico Zé Celso Martinez Corrêa, foi uma feliz escolha para uma obra desse naipe – e tornou-se, no fim das contas, um verdadeiro acontecimento em Novembro último. Tible lançou um olhar sobre um Marx menor – em contraste com um Marx grandioso, civilizado e arrogante – que se revela, não por acaso, na virada dada pelo filósofo alemão na compreensão do colonialismo e das chamadas sociedades sem classes: isto é, quando Marx se livra, ou tenta se livrar, do  paradigma ilumino-modernista, algo que no plano conceitual se dá na forma de seu afastamento definitivo da filosofia da consciência hegeliana rumo a uma ontologia do sensível, no qual a temática da subjetividade torna-se horizonte visível.
A opção do autor pela problemática do pensamento marxiano face aos selvagens é uma curiosa, e pertinente, forma de abordar essa transição de Marx, justamente pelo significado disso no plano das lutas. A escolha de Tible, quando este poderia simplesmente optar por discutir os desdobramentos ontológicos desse processo, é reveladora do seu ímpeto político e iconoclasta. Em algo, ele ecoa o espírito de obras como Anomalia Selvagem de Toni Negri, isto é, fazer justiça com as próprias mãos contra a apropriação majoritária e civilizatória de um grande pensador – no caso de Negri, Spinoza, enquanto aqui, Marx. É, pois, uma proposta original e audaciosa, que merece ser lida — e, obviamente, deglutida da melhor forma.
Convém, a título de explicação, expor a maneira como essas “sociedades”, esses selvagens todos, se articulariam no interior do pensamento marxiano, o que implica em questões importantes e delicadas no que toca à obra do filósofo alemão: (I) no plano dos conceitos, a afirmação de que o grau de abertura de Marx para a subjetividade, e consequentemente para as temáticas da filosofia contemporânea, é mesmo maior do que poderiam suportar, por exemplo, marxistas ortodoxos, modernistas e/ou iluministas — como algum bolshevik genérico, Hobsbawn e/ou Elster; (II) no plano das lutas, trata-se de uma rearticulação da maneira como se toma o colonialismo, o capitalismo e formas de resistência, o que oporia Marx à sujeição incondicional ao processo civilizatório — sujeição tal que não poucos marxistas se apegam e se apegaram, basta lembrar da União Soviética ou mesmo de um (ex?)trotskysta como Hitchens defendendo a Guerra do Iraque. Conceitos e lutas, nem preciso dizer, estão intimamente ligados na práxismarxista.
Logo, é evidente que Marx Selvagem põe o dedo na ferida de uma velha doxa do mundo intelectual: aquela que coloca em lados opostos do ringue “marxistas” e “antropólogos” — em uma arenga interminável e sem solução. O motivo da querela é justamente a segunda razão acima apontada: Marx, segundo os “antropólogos”, seria aliado da civilização e seu aparente radicalismo significaria, apenas e tão somente, uma variação possível dentro do paradigma organizativo judaico-cristão do ocidente — mais ou menos aquilo que Pierre Clastres trouxe à baila em seu Sociedade contra o Estado. E que para alguns “marxistas” é isso mesmo: a história é linha reta determinada pelo o desenvolvimento dos meios de produção, o que exige um compromisso profundo com a “civilização” e seu avanço — mesmo com certos, digamos, “sacrifícios” em nome do bem maior, sendo o comunismo, ele mesmo, apenas o estágio superior da civilização.
Pois bem, o livro de Tible é bom porque se livra dessas falácias, insere-se na alegremente na polêmica — ainda que por ser um tese de doutorado, antes de um livro, carregue um estilo às vezes demasiado acadêmico, mais pesado do que uma obra com essa temática demanda. A obra em questão está articulada em três capítulos: o primeiro, sobre a relação de Marx e o colonialismo e a América Indígena, o segundo, a respeito da práxis antiestatal de Marx — aproximando-o do Clastres que lhe criticou tão duramente — e, por fim, o melhor e mais relevante capítulocosmologias, no qual Tible delinea o ponto de conexão entre Marx e o pensamento ameríndio — aqui, na forma da antropologia reversa de Davi Copenawa –, o que é precisamente a relação entre a noção marxiana de fetiche da mercadoria e o de feitiço: os brancos civilizados, pois, não estão menos isentos de serem enfeitiçados, ao contrário, vivem imersos na atração fatal que nutrem por seus objetos técnicos, na medida em que lhe atribuem feições humanas – no mesmo movimento em que desumanizam a si mesmos e aos outros, sendo que só a partir daí tais objetos devêm mercadoria.Sim, Marx, ao contrário de Engels, emergiu gradualmente do fetiche civilizatório e modernista. E é em torno disso que giro o primeiro capítulo do livro. E isso não é generosidade demasiada, uma apropriação arbitrária ou wishful thinking do autor de Marx Selvagem para com Marx: Tible demonstra isso com obstinação ao expor o giro marxiano em relação à questão colonial; o velho Marx possuía uma posição inicial sobre o imperialismo, segundo a qual o processo de colonização era visto como uma chance de povos como os indianos entrarem na História para, depois, chutarem os colonizadores britânicos, unindo-se aos trabalhadores do mundo num processo que desembocaria na revolução; isso muda, no entanto, quando Marx assume uma posição absolutamente hostil ao colonialismo, o qual passa a ser enxergado como mero meio de retroalimentação da máquina capitalista mundial: seria um dispositivo marcado pela dialética centro (progresso) e periferia (atraso), na qual os civilizados explorariam os selvagens e bárbaros, que lhes eram contemporâneos. A partir daí, a própria luta de classes tornaria-se uma modalidade da exploração geral, a qual em escala global era dada pelo processo de parasitagem do colonialismo.Grande parte desse giro marxiano se dá em razão da leitura marxiana do antropólogo americano Lewis Henry Morgan: e a novidade que Morgan trouxe à antropologia foi de não apenas deixar de lado o discurso colonial-racista dos seus pares, mas também — e sobretudo — de afirmar que as as coletividades humanas selvagens não eram necessariamente piores. Ao contrário. Isto é, ainda há uma certa linearidade em Morgan — como há em Marx –, mas o que certamente lhe fascinou em Marx foi que os selvagens não estão postos em uma condição hierarquicamente inferior aos civilizados, consistindo em formas diferentes de coexistência — ambas sincrônicas, diga-se de passagem. Tible, aliás, é particularmente competente em demonstrar isso.
As coisas esquentam mesmo no segundo capítulo, quando Tible faz uma leitura do anti-estatalismo na obra de Marx e de Pierre Clastres, ousando estabelecer um ponto de conexão entre ambos — o que, a um primeiro olhar, seria tarefa impossível. Pois bem, a hipótese que o autor traça é conectar a sociedade sem Estado de Marx a a sociedade contra o Estado de Clastres, encontrando um comum em meio à (aparente?) dissonância. Sim, ambos, Marx e Clastres, são pensadores anti-Estado. A partir daí, ele traça o anti-estatalismo na obra dos dois para, logo mais, promover o encontro entre eles. A transição revolucionária de Marx, o que há entre o Estado burguês e o comunismo, como o esconjuramento atual do Estado em Clastres?
E Tible faz bem isso ao nos lembrar que Marx não é Lassalle, para quem a ideia de um Estado popular e proletário já aparecia com O caminho: isto é, para Marx, o Estado não é solução, mas resultado funesto da sociedade de classes, o que pode ser definido na seguinte fórmula. A sociedade de classes é causa efetiva do Estado, pois este é o local por excelência, no qual a classe dominante reprime/media as tensões causadas pela resistência da(s) classe(s) dominadas. De tal forma, ao assumir a posição da classe trabalhadora como a classe revolucionária, ele acreditava que esta ao assumir o poder seria capaz de promover a universalização da qual os burgueses jamais seriam, ou foram, capazes: esta universalização levaria a uma sociedade sem classes, ao fim do capitalismo, e consequente esvaecimento gradual do Estado. Essa talvez seja a maior diferença entre Marx e Engels, uma vez que o segundo via o Estado como causa, ao menos relativa, uma vez que ele era instrumento de repressão nas mãos da classe dominante: no engelianismo, uma vez a revolução sobreviesse e a reação a esta cessasse, o Estado perderia utilidade. 

Mas é nas polêmicas com Bakunin que chegamos ao ponto que interessa. No que se refere ao combate político-intelectual com o anarquista russo, Marx defende sempre uma transição revolucionária para a sociedade de classes — e estatal — e sociedade sem classes, por não acreditar na abolição estatal “por decreto” como defendida por Bakunin; no entanto, Bakunin da sua parte responde a Marx — e não a nenhum marxista, contemporâneo ou futuro – que a transição proposta culminaria na prevalência do Estado de um modo tão ou mais autoritário — não é que Bakunin discordasse da libertação dos trabalhadores, mas sim de que a hegemonia proletária no Estado não seria capaz de gerar a liberação humana e que, ainda, entendia que o Estado gerava, ou sustentava, a sociedade de classes, logo, a sociedade sem Estado era condição prévia para a sociedade sem classes — e não o contrário.
Tible, no entanto, poderia ter feito um esforço mais conceitual do que descritivo no que diz respeito à inversão Bakuniniana e suas implicações.  E poderia ter mergulhado com mais profundida na dicotomia marx-bakuniniana sobre a sociedade de classes e o Estado. Isso fica claro quando Tible prefere rebater a crítica de Bakunin ao estatismo colateral do plano de transição revolucionário de Marx, vejamos nós, pela exposição da falta de um plano de ação à proposta teórica de Bakunin, o que teria sido comprovado por seus fracassos práticos — ou quando procurar explicar a certeza da antevisão (cruel? auspiciosa?) do anarquista, sobre o que seria a experiência histórica do “socialismo real”, pelo viés de sua eventual razão em relação “a um certo marxismo já existente”, e não em relação a conceitos marxianos efetivos. A crítica ao modo como a polêmica marx-bakuniniana foi pouco enfrentada consta do próprio posfácio e, convenhamos, é justa.
Quando trata de Clastres, Tible nos lembra que para o antropólogo francês, o Estado sempre existiu, mas nas sociedades indígenas existentes,  este era esconjurado por uma série de práticas que esvaziam o desenvolvimento do poder. Isto é, longe de Engels, que concebeu o Estado como evolução histórica da divisão do trabalho em As Origens da Família, da Propriedade Privada e do Trabalho, para Clastres o Estado estava posto desde sempre, mas práticas como o nomadismo e a relação entre a tribo e seus guerreiros e chefes, ele restava apenas latente. O que os povos estudados por Clastres nos apontavam era a possibilidade de esconjurarmos o Estado aqui-agora. Isso seria possível, pois os povos de Estado, já foram, algum dia sem Estado, não por falta de evolução, mas pelos agenciamentos coletivos que produziam, o que estaria à nossa mão aqui-agora — e, sim, você há de ter lido algo do gênero, não por acaso, em Deleuze-Guattari.
Mas Marx, em dado momento, já antevia as sociedades sem Estado existentes hoje como um símbolo do passado (europeu), mas, sobretudo, como flecha apontando para o comunismo do porvir. Eis o que seria o casamento (possível) entre a sociedade sem Estado e a sociedade contra o Estado, atadas por um fio vermelho. Mas Tible perdeu a oportunidade para adensar algo que ele mesmo suscitou, quando lembrou o comentário de Gustavo Barbosa sobre o contratualismo em Hobbes: faltou, entretanto, definir o que seria, ontologicamente, “sociedade”, ou qual o motivo de naturalizarmos o termo como a própria essência da coletividade humana; se o próprio Marx via o contrato social como um mecanismo de expropriação, seria possível haver sociedadesem contrato social? E poderia haver sociedade — A Sociedade –, sem haver um Estado para fazer valer — à força, se necessário — tal contrato? Como os selvagens, que em toda a literatura contratualista não travaram contrato social algum, poderiam constituir uma forma de sociedade?
São questão que ambos, Marx e Clastres, não enfrentaram a seu tempo, logo, Tible não teria obrigação, em tese, de fazê-lo descritivamente em um trabalho acadêmico. Mas poderia ter adensado a crítica nessa direção. Deleuze e Guattari, eles mesmo, acertaram ao falar, no Anti-Édipo, no acerto de Marx ao tratar a história como a história dos cortes e das contingências, mas apontavam que o pensador alemão errou ao fazer leitura da história como luta de classes — quando isso pode se revelar apenas a história desde o advento da burguesia –, o que causava a ilusão de ótica de ver a burguesia, em algum momento, como realmente revolucionária — o que implica em desconhecer os próprios descaminhos da revolução passada e, consequentemente, das revoluções futuras. Por outro lado, no entanto, D&G esvaziaram isso ao, em Mil Platôs, surgirem com a ideia da existência de um Estado, ou um fantasma estatal, que percorreria a história do humana. A própria noção de socius, já no Anti-Édipo, é parte dessa contradição em termos, uma vez que o pensamento social, ao contrário do que parece, é eminentemente burguês.
Ainda que Marx e Clastres digam “sociedade” como expressão de qualquer coletividade humana, o fato de não esmiuçar o conteúdo específico do termo leva ao desconhecimento dos efeitos dessa naturalização. Não, os índios não vivem em sociedade por que não partilham um contrato, isto é, não vivem em regime negocial. O ócio, isto é, trabalhar para viver e não viver para trabalhar é o que – acima de tudo – distingue os índios de nós, pobres ricos ocidentais. Os selvagens não travam sociedades entre si, tampouco vivem sob a égide de A Sociedade — portanto, do Estado. A dificuldade de Marx e Clastres em articular contrato social, sociedade e Estado, possuem um desdobramentos importantes. O que por trás da naturalidade, no sentido de normalidade, da sociedade é algo que poderia ter sido respondido. Entender a história para além dos termos em que seu deu a luta na sociedade hegemonizada pela burguesia exige, também, uma genealogia profunda do contratualismo.
O ponto forte do livro está mesmo no terceiro — e último – capítulo. Copenawa e Marx, separados por dois séculos — e um imenso oceano — de diferença, mas que veem na relação mágica — e teológica — dos homens com seus objetos a chave para a crítica à economia política e ao capitalismo. Assertiva perfeita de Tible. O liame da relação entre homem e mercadoria é, precisamente, afetivo, dada pelos efeitos reais de um discurso imaginário. É precisamente essa liame subjetivo que permitiu a virada do capitalismo industrial para o capitalismo financeiro e cognitivo. A mágica devém absoluta, justamente porque os objetos técnicos já eram laterais antes, até se tornarem quase que completamente obsoletos nos dias atuais: o que gera valor são conceitos, abstrações, marcas.
E certíssima a crítica de Tible a Viveiros de Castro, alguém cujo ponto feliz de sua antropologia está em relacionar a metafísica deleuzo-guattariana — que é sim marxista — com uma pesquisa etnográfica densa — e Viveiros concorda com o Marx da virada mais do que gostaria, e poderia admitir, como Tible felizmente demonstra. O que Tible não adensou, novamente, é que se Viveiros, via D&G, vê bem o erro marxiano (dar uma demasiada universalidade à história burguesa), por outro lado, novamente por meio dos dois, repetiram o erro de Marx ao dar, p.ex., uma existência extra-histórica na História ao Estado (sempre houve Estado), o que polui o pensamento de neblina na hora de destrinchar, e desmontar, dispositivos específicos  – os quais estão a serviço da escravidão universal do regime do Capital.
Por fim, Marx Selvagem, que desemboca em Oswald no final, é uma obra divertida. Passa por muitos autores, questões e polêmicas caros ao pensamento-prática da esquerda atual. Mas importante de tudo, é a leitura correta de Marx presente no livro, ao levantar a bola para onde o pensador alemão mirava no século 19º, e não para o seu retrovisor, isto é, a própria tradição majoritária alemã. O Marx maior, felizmente, foi jogado na lata do lixo da História, primeiro com a queda do Muro de Berlim, depois com a crise do colaboracionismo de esquerda ao neoliberalismo, agora, mais do que nunca, é hora de pôr em prática um outro Marx, o que, a nosso ver, é imprescindível. Hoje, mais do que nunca, é o momento de bradar: Selvagens do Mundo, Uni-vos!
TIBLE, Jean. Marx Selvagem. São Paulo: Editora Annablume, 2013, 242 páginas.

sexta-feira, dezembro 20, 2013

Brasil comemora aprovação na ONU de documento contra a espionagem eletrônica

adital
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&lang=PT&cod=79179


Brasil comemora aprovação na ONU de documento contra a espionagem eletrônica

Adital
Foto: Rede Brasil Virtual
O Itamaraty manifestou "grande satisfação" pela decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas que aprovou, por unanimidade, o projeto de resolução ‘O Direito à Privacidade na Era Digital’, apresentado por Brasil e Alemanha, em 1 de novembro, como reação às denúncias de espionagem internacional praticada pelos Estados Unidos em meios eletrônicos e digitais.
O documento, que trata de ações "extraterritoriais de Estados em matéria de coleta de dados, monitoramento e interceptação de comunicações” foi aprovado pelos 193 Estados-Membros das Nações Unidas ontem à noite. Segundo a resolução adotada pela ONU, as pessoas devem ter garantidos, no ambiente digital, os mesmos direitos que têm fora dele. As normas internacionais que fundamentaram a proposta conjunta são o Artigo 12 da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Artigo 17 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos - que mencionam o direito à privacidade, a inviolabilidade de correspondência e a proteção contra ofensas.
Para o Ministério das Relações Exteriores, a decisão da Assembleia Geral da ONU "demonstra o reconhecimento, pela comunidade internacional, de princípios universais defendidos pelo Brasil, como a proteção do direito à privacidade e à liberdade de expressão”. De acordo com o Itamaraty, outra inovação da proposta adotada pela ONU é o reconhecimento dos direitos dos dados dos cidadãos tanto offline(fora da internet) como online. "Prevê, ainda, passos para dar continuidade ao diálogo e aprofundar discussões ao longo dos próximos meses, no âmbito das Nações Unidas, sobre o direito à privacidade nas comunicações eletrônicas”, informa a nota.
Leia mais:
04.11.2013 - The New York Times disse que NSA espionou a Venezuela, a Colômbia e as Farc
01.11.2013 - Brasil e Alemanha pedem ação da ONU contra espionagem dos EUA

terça-feira, dezembro 17, 2013

Chico Mendes é declarado patrono do meio ambiente no Brasil

o eco
http://www.oeco.org.br/salada-verde/27860-chico-mendes-e-declarado-patrono-do-meio-ambiente-no-brasil


Chico Mendes é declarado patrono do meio ambiente no Brasil
((o))eco - 16/12/13

Chico Mendes and children 1988Chico Mendes em sua casa, em Xapuri (AC), com seus dois filhos, Elenira e Sandino Mendes. Foto: Wikipédia.
A Presidente Dilma Roussef sancionou nesta segunda-feira (16) a Lei nº 12.892, que torna o líder seringueiro Chico Mendes patrono do meio ambiente brasileiro. No próximo dia 22 de dezembro é aniversário de 25 anos da morte de Mendes, assassinado a tiros no quintal de sua casa, em Xapuri, no Acre, em 1988.
A luta de Chico Mendes em prol dos povos da floresta e pela conservação da Amazônia motivou homenagens de várias instituições, que batizaram órgãos e departamentos com seu nome. Isso inclui o ICMBio (Instituo Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), responsável por gerir as Unidades de Conservação federais. Em Xapuri, a Reserva Extrativista Chico Mendes, criada em 1990, hoje explora e comercializa a borracha (Folha Defumada Líquida-FDL) e o óleo de copaíba, e implementa projetos na tentativa de conciliar preservação e extrativismo.
Na Câmara dos Deputados, o plenário onde funciona a Comissão da Amazônia deveria ganhar o nome de Chico Mendes há 5 meses, quando foi aprovado o projeto da deputada Janete Capiberibe (PSB-AP), que dava o nome de Mendes ao espaço. Mas, como mostra reportagem do Jornal O Globo, os ruralistas, que são maioria na comissão, se recusam a consumar a homenagem.

quinta-feira, dezembro 12, 2013

Greenpeace alerta para prática de pesca mais escandalosa do planeta

ihu
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/526548-greenpeace-alerta-para-pratica-de-pesca-mais-escandalosa-do-planeta


Greenpeace alerta para prática de pesca mais escandalosa do planeta

Visando suprir a crescente demanda por sushi e peixe enlatado, a pesca de atum com espinhel não apenas está colocando esta espécie à beira da extinção, como também outros animais marinhos.
A reportagem é de Fernanda B. Müller e publicada pelo Instituto CarbonoBrasil, 10-12-2013.
Com o consumo de pescados aumentando exponencialmente ao redor do mundo, a questão da saúde dos oceanos está cada vez mais em evidência.
Já está claro que, para que os ecossistemas marinhos resistam às consequências do aquecimento global, eles precisam ter a sua estrutura trófica preservada, e assim, é urgente que medidas sejam tomadas para barrar os imensos impactos da sobrepesca.
Com isso em mente, o Greenpeace lançou um relatório em que explica o que classifica como a prática de pesca mais escandalosa do planeta, o uso de espinhel. O método é aplicado para a captura dos valiosos atuns, que alimentam a crescente demanda por sushi e peixe enlatado (atum-branco).
Ninguém sabe os números exatos de quantas embarcações pescam com espinhel, mas estimativas alcançam mais de cinco mil. Cada uma delas pode armar uma linha com até 170 km de comprimento contendo três mil anzóis que capturam atuns, mas também tubarões, tartarugas, aves e muitos outros animais.
No caso dos tubarões, muitas embarcações se aproveitam do bycatch (‘pesca acidental’) para explorar o comércio de barbatanas, extremamente lucrativo e cruel, além de ser a causa de uma queda catastrófica no numero desses animais, essenciais para a saúde dos oceanos.
Essas embarcações, e principalmente aquelas que navegam em alto mar, operam sem regulamentação alguma e infringem as cotas impostas por leis internacionais, resultando em altos índices de pesca ilegal e não reportada. Trabalhadores em condições análogas à escravidão também são comumente encontrados, reporta o Greenpeace.
Tudo isso levou a uma massiva sobrepesca de várias espécies de atum (de-olho-grande, amarelo, branco e azul).
No caso da costa brasileira, as espécies de atum que podem ser encontradas são o Thunnus albacares (chamado de albacora ou amarelo), com uma população remanescente estimada em 30%, segundo o Greenpeace, e o Thunnus atlanticus.
Em setembro, o jornal Carta Capital denunciou que três embarcações estrangeiras podem ter sido responsáveis, em pouco mais de três meses, pela morte de ao menos 30 mil aves marinhas, entre albatrozes, petréis e gaivotas, por não obedecerem a normas básicas para a pescaria ditadas pela legislação brasileira.  
Cerca de 90% do atum pescado no Brasil embarca em cargueiros japoneses.
Segundo a oceanógrafa Sylvia Earle, da National Geographic Society, maior referência mundial em oceanografia, 95% da população global de atum-azul (Thunnus thynnus) já virou sushi.
O Greenpeace pede por uma revolução nessa indústria para melhorar o manejo e o controle, reduzindo o poder de países como Taiwan, Coreia do Sul, China e Japão e estabelecendo cotas de pesca.
Batalha política
Na semana passada, delegados de 25 países encarregados de gerenciar o maior setor pesqueiro do mundo se encontraram na Austrália na reunião da Comissão de Pesca do Pacífico Central e Ocidental e nenhuma restrição significativa na captura do atum foi acordada.
Apesar dos apelos de países insulares para banir a pesca do atum no leste do Pacífico, um forte lobby de países como Estados Unidos, China e Coreia do Sul impediu a aprovação de medidas fortes para conter o declínio marcado nas populações do peixe.
Na semana anterior, a Comissão Internacional para a Conservação do Atum do Atlântico se reuniu e, segundo Elizabeth Wilson, que preside da unidade de políticas oceânicas do Pew Charitable Trusts, os delegados de 55 países agiram positivamente para recuperar as populações de atum azul do Atlântico ao concordar em manter a cota atual de pesca, o que seria recomendado por cientistas.
Porém, ela lamenta que não houve avanços nas medidas para acabar com o declínio de espécies vulneráveis de tubarões e para a implantação de um sistema eletrônico visando ao rastreamento das capturas e comércio do atum azul.
"Infelizmente, os governos não conseguiram limitar a captura do tubarões mako e porbeagle no Oceano Atlântico, apesar dos conselhos científicos claros de que a sobrepesca está acabando com as suas populações”, disse Wilson.

Vinte imagens para começar a compreender 2013

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http://outraspalavras.net/outrasmidias/capa-outras-midias/vinte-imagens-para-comecar-a-compreender-2013/#


Vinte imagens para começar a compreender 2013

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Multidões nas ruas. Repressão. Fenômenos climáticos extremos. Refugiados. Esportes imprevistos. Agência AFP aponta suas fotos que mais repercutiram nas redes sociais, no ano
Por AFP / Edição: Pragmatismo Politico
Confira abaixo a seleção:
Ps.: a ordem numérica tem apenas caráter organizacional e não se refere a ranqueamento
1. Pessoas em varandas observam participantes de corrida de touros no festival de São Firmino, em Pamplona, Espanha, no dia 7 de julho. Milhares de pessoas do mundo inteiro vão todos os anos até a cidade espanhola para participar da festa dos touros. (Foto: Pedro Armestre / AFP)
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2. Multidão de pessoas com bóias se refresca em parque aquático de Suining, na China, em 27 de julho. Neste dia, os termômetros locais marcavam 41ºC (Foto: AFP)
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3. Manifestante turco cobre o rosto com garrafa d’água improvisada como máscara de gás durante protestos em Ancara, no dia 9 de junho, o décimo dia consecutivo de grandes manifestações contra o governo do premiê Recep Tayyp Erdogan (Foto: Marco Longari / AFP)
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4. O indonésio Handoko Njotokusumo e seu cão, o golden retriever Ace, andam de moto por rua de Surabaya, em 2 de maio (Foto: Juni Kriswanto / AFP)
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5. Manifestante beija policial durante manifestação em Susa, na Itália, contra a construção de uma linha de trens de alta velocidade entre Turim (Itália) e Lyon (França), no dia 16 de novembro (Foto: Marco Bertorello / AFP)
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6. June Simson (dir.) é abraçada por vizinha após encontrar o seu gato junto aos destroços de sua casa em Moore, no Estado americano de Oklahoma, em 21 de maio. A cidade foi devastada pela passagem de um tornado, que matou mais de 20 pessoas, incluindo 9 crianças de uma escola, na região de Okalhoma City (Foto: Joshua Lott / AFP)
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7. Manifestantes egípcios protestam a expressão inglesa “Game Over” (o jogo acabou, na tradução livre) em prédio do governo nos arredores da Praça Tahrir, no Cairo, em 2 de julho. No dia seguinte, o presidente Mohamed Mursi foi deposto como resultado dos protestos que tomaram conta do país (Foto: Khaled Desouki / AFP)
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8. A italiana Licia Ronzulli (centro) participa com a sua filha Victoria de votação no Parlamento Europeu em Estrasburgo, na França, em 19 de novembro (Foto: Frederik Florin / AFP)
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9. Policiais disparam tiros de bala de borracha em manifestante durante protesto no Rio de Janeiro em 20 de junho (Foto: Christophe Simon / AFP)
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10. O jamaicano Usain Bolt (esq.) vence a final dos 100 m rasos no mundial de atletismo em Moscou, na Rússia, em 11 de agosto (Foto: Olivier Morin / AFP)
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11. Mulher sofre para controlar o seu guarda-chuva durante chuva provocada pela passagem do tufão Usagi por Manila, nas Filipinas, em 22 de setembro (Foto: Noel Celis / AFP)
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12. Crianças observam os estragos causados pela passagem do supertufão Haiyan pela cidade de Tacloban, Filipinas, no dia 10 de novembro. Milhares de pessoas morreram neste desastre natural (Foto: Noel Celis / AFP)
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13. Vítima do supertufão Haiyan é observada por sua mulher em hospital de Tacloban, nas Filipinas, em 15 de novembro. O homem teve a perna amputada, o que gerou uma posterior infecção. A mulher o mantinha vivo ao bombear manualmente ar em seus pulmões (Foto: Philippe Lopez / AFP)
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14. Sobreviventes do supertufão Haiyan marcham durante procissão na cidade de Tolosa, Filipinas, em 19 de novembro, uma semana após a cidade ser devastada (Foto: Philippe Lopez / AFP)
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15. Atleta observa pinguim durante maratona na Antártida, em 1º de março. Cinquenta e dois corajosos atletas enfrentaram o frio no continente gelado para disputar a prova (Foto: Joel Estay / AFP)
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16. Imagem aérea mostra o campo de refugiados sírios de Za’atari, na Jordânia, em 18 de julho. Na época, o local abrigava ao menos 115 mil pessoas que fugiram da guerra civil na Síria (Foto: Mandel Ngan / AFP)
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17. Mulher egípcia tenta impedir que escavadeira atropele jovem ferido durante confronto com as forças de segurança no Cairo, em 14 de agosto. Na data, as autoridades realizaram uma operação para destruir um acampamento montado por manifestantes nas proximidades da mesquita de Rabaa al-Adawiya (Foto: Mohammed Abdel Moneim / AFP)
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18. Manifestantes egípcios direcionam lasers para helicóptero que sobrevoava o palácio presidencial no Cairo em 30 de junho. Milhares de pessoas acamparam por dias exigindo a renúncia do presidente Mohamed Mursi, que viria a ser deposto no dia 3 de julho (Foto: Khaled Desouki / AFP)
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19. Caixões de vítimas de naufrágio de barco com imigrantes são perfilados no aeroporto de Lampedusa, na Itália, em 5 de outubro. Mais de 300 migrantes africanos morreram na tragédia (Foto: Alberto Pizzoli / AFP)
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20. Ex-soldado reage após ser condenado à morte por tribunal de Daca, em Bangladesh, em 5 de novembro. Ele e cerca de outras 150 pessoas foram condenadas por um motim militar que resultou em um massacre de oficiais em 2009 (Foto: Munir uz Zaman / AFP)
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sábado, dezembro 07, 2013

Madiba, Tata, Mandela... Morre o último grande herói do século XX

adital
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&lang=PT&cod=78998

Direitos Humanos
06.12.2013
Mundo ]
Madiba, Tata, Mandela... Morre o último grande herói do século XX

Mateus Ramos
Adital

"Onde quer que haja pobreza e doença, onde quer que os seres humanos estejam a ser oprimidos, há trabalho a fazer. Após 90 anos de vida, é tempo de novas mãos empreenderem a tarefa. Agora, está nas vossas mãos". A frase de Nelson Mandela, dirigida às milhares de pessoas que se juntaram no Hyde Park, Londres, em junho de 2008, para comemorar os seus 90 anos, reflete bem o legado de vida do Madiba, como foi apelidado carinhosamente pelo povo sul-africano. Uma vida dedicada à luta contra as diferenças sociais, pela vida humana.
Escrever sobre Mandela, falar sobre as coisas mais importantes realizadas por ele é tarefa difícil, sua vida é repleta de lutas e sacrifícios. "Os verdadeiros líderes devem estar dispostos a sacrificar tudo pela liberdade de seu povo”, palavras proferidas por um homem que foi preso, injustamente, por 27 anos, devido à luta contra a segregação racial na África do Sul (Apartheid). Mandela lutou durante toda a sua vida pelos direitos humanos, não somente em seu país, mas em todo mundo.
A morte de Nelson Mandela é chorada não apenas na África do Sul, mas em todo mundo. Mandela é considerado por muitos um herói, seus sacrifícios ocorreram pelo povo africano, mas são exemplos de luta para todos. "Como líder mundial, que se negou a aceitar a injustiça, a coragem de Nelson Mandela contribuiu para mudar todo o nosso mundo. Sua morte deixa um enorme vazio, não só na África do Sul, mas em todo mundo”, afirma Salil Shetty, secretário geral da Anistia Internacional, em nota oficial da entidade.
"Impressionava, esse homem tão excepcional (…). Literalmente, ao vê-lo e ouvi-lo falar, era possível se sentir na presença de uma pessoa muito relevante (…). Tinha um rosto encantador e, quando falava com você, era possível sentir que a pessoa mais importante no momento era justamente você e não ele”, relata, na mesma nota da Anistia Internacional, Louis Blom-Cooper, um dos fundadores da entidade.
A agência de notícias ‘Prensa Latina’ também homenageou o Tata, outro apelido carinhoso de Mandela, divulgando em seu site uma reportagem com o histórico de vida do líder sul-africano, recuperando desde sua vida acadêmica até sua morte. "Figura imensurável, teve a capacidade de estremecer como nunca seu país e deixa como legado um exemplo internacional de dimensões extraordinárias (...). Mandela tinha, entre outras virtudes, a capacidade de fazer certa a palavra levada ao pé da letra”, afirma a Prensa Latina.
Raúl Castro, presidente de Cuba, divulgou uma carta aberta falando de Nelson Mandela. "De Mandela, nunca poderemos falar no passado”, afirma a carta. O presidente cubano ressalta que o Tata será lembrado na eternidade por sua luta contra o apartheid e a favor dos direitos humanos. Outro presidente que se manifestou foi o venezuelano Nicolás Maduro, que decretou luto oficial de três dias no país. "Em homenagem ao gigante Nelson Mandela, decidi, em nome de toda a Venezuela, decretar três dias de luto em toda a pátria de Bolívar e Chávez (...). Nelson Mandela, até a vitória sempre, líder de todos os povos que lutam, desde a Venezuela te enviamos nosso amor”, manifestou Maduro em sua conta no Twitter.
Fatos marcantes
Em 1993, Nelson Mandela recebeu, juntamente com Frederik Willem de Klerk, seu antecessor na presidência e vice no seu mandato, o prêmio Nobel da Paz, pela luta contra o Apartheid na África do Sul. Na ocasião da entrega do prêmio, Mandela discursou: "O valor desse prêmio que dividimos será e deve ser medido pela alegre paz que triunfamos, porque a humanidade comum, que une negros e brancos em uma só raça humana, teria dito a cada um de nós que devemos viver como as crianças do paraíso".
Após longos anos de luta contra a segregação racial, em 19 de maio de 1994, Mandela foi eleito o primeiro presidente democrático sul-africano. Sua eleição foi um marco divisório na história do país, que saiu do regime draconiano para a democracia plena, elegendo o primeiro governante negro; "seu governo seria para reconciliar oprimidos e opressores, uns com os outros e consigo mesmos” disse ele.
Um dos momentos mais emocionantes dessa reconciliação ocorreu em 1995, na final do Mundial de Rúgby, evento em que a África do Sul participava após anos de suspensão devido ao Apartheid. Esporte popular entre os brancos, o Rugby não era espaço para os negros, que se dedicavam ao futebol. Os sul-africanos estavam na final, mas eram considerados azarões diante dos poderosos neozelandeses. Contudo, a África do Sul venceu a partida e o troféu foi entregue por Mandela. A cena do presidente negro entregando a taça de campeão ao capitão branco entrou para a história.
Como ex-presidente, Madiba continuou seu legado de lutas contra as desigualdades e pela paz. Em 1999, assumiu o papel de mediador no processo de paz no Burundi, onde se temia um sangrento conflito armado. Mandela deu mais visibilidade internacional às negociações e conseguiu que, no ano 2000, fosse assinado um acordo de paz. Uma das maiores habilidades de Mandela era seu caráter ponderado e apaziguador, que lhe permitia manter juntos vários setores antagonistas. "Se um ou dois animais se afastam, você vai e os traz de volta ao rebanho, essa é uma importante lição na política”.
Em seus últimos anos de vida, Mandela se afastou da vida pública e ficou mais próximo da família. Em 2007, fundou o The Elders (os anciãos, em inglês), um grupo de líderes mundiais que se reúne em torno de uma agenda humanitária e de promoção da paz.
Nelson Mandela foi o último grande herói vivo do século XX. Ele entra para a história ao lado de personalidades como Gandhi e Martin Luther King Jr., que acreditavam que a igualdade era um sonho possível. Com uma diferença: Mandela teve a oportunidade de viver tempo o suficiente para experimentar o exercício do poder e sentir o gosto de mudar os rumos da história.

Veja a galeria de imagens selecionadas pelo Resumen Latino-americano:
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Em 1950, Mandela foi boxeador

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Em 1951.

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Foto do casamento com sua primeira esposa, Winnie Madikizela

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Com Winnie, após ter cumprido 27 anos de prisão

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Fevereiro 1991

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Recém saído da prisão

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Em Londres, junto a uma réplica sua

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No casamento de sua filha, Zinzi Mandela (outubro de 1992)

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Em dezembro de 1993, com Frederik de Klerk, recebendo o Nobel da Paz

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Maio de 1994, Mandela se torna presidente da África do Sul

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Em seu aniversário de 85 anos, com sua última esposa, Graca Marchal

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Em 2004, levando a tocha olímpica

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Adeus, inesquecível Madiba