terça-feira, março 25, 2014

Redes de combate à pobreza

adital
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&lang=PT&cod=79893


Redes de combate à pobreza

Bruno Peron Loureiro
Adital

A formação de redes de diálogo entre profissionais envolvidos no combate à pobreza é um avanço no Brasil. De fato, uma tarefa tão árdua não poderia pesar nos ombros de um único Ministro ou outro tomador de decisão. Este esforço, no entanto, esbarra num erro de cálculo geográfico: onde está a pobreza. Ao crer que a pobreza está somente nas favelas e nas periferias, tomadores de decisão descuidam do teor pobre de suas próprias ideias.
Reconheço o mérito da recém-criada Iniciativa Brasileira de Aprendizagem por um Mundo sem Pobreza devido à solidariedade interinstitucional com que as políticas de combate à pobreza contarão no Brasil. Tal Iniciativa recebeu o nome Mundo sem Pobreza (World without Poverty, WWP) e lançou-se em março de 2014 no Rio de Janeiro. O governo brasileiro acaba de inaugurar um programa de combate à pobreza e já o quer como algo de abrangência mundial; assim, o governo exporta um modelo de combate è pobreza a um mundo onde a miséria e a desigualdade não são (com algumas exceções na África, Ásia, Caribe e própria América do Sul) tão extremas como no Brasil.
No entanto, a proposta do Mundo sem Pobreza é alvissareira. O website do Mundo sem Pobreza informa que alguns objetivos desta Iniciativa são: apoiar discussões sobre redução da pobreza, formar redes de profissionais envolvidos no setor, e promover o compartilhamento de conhecimentos entre países.
Na Iniciativa Mundo sem Pobreza, o governo brasileiro (neste caso, com a colaboração do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) formou parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o Banco Mundial (que surgiu através do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento, BIRD) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Curiosamente estes organismos tramam a redução da pobreza sem mudar o modelo de desenvolvimento brasileiro; entrementes, acreditam na linearidade do desenvolvimento ao nomear o Brasil um "país subdesenvolvido” ou um "país em desenvolvimento” porque estaríamos apenas numa etapa histórica mais atrasada. Os tomadores de decisão articulam-se entre eles, mas não reformam suas ideias para dar saltos como a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) deu em 1950 e 1960.
É necessário reconhecer, malgrado as críticas que este texto faz, que programas sociais como o Bolsa Família e o Plano Brasil sem Miséria avançam na inclusão social, na redução da fome e no incentivo ao trabalho. A intenção destes programas é nobre e construtiva; mal é o uso que uma parcela dos beneficiários fazem sem que precisem de incentivos do governo ou sem aprender a andar com as próprias pernas (que é a mensagem principal destes programas).
Embora equipes governamentais esforcem-se para corrigir os programas sociais, as políticas de inclusão educacional-social do Brasil estão longe de ser exemplo para o mundo. No Brasil, as políticas distanciam os setores que são muito ignorantes daqueles que são muito bem educados com programas como o Ciência sem Fronteiras. Este transforma os que já eram bem-educados em seres ultra-educados com bolsas milionárias de estudo no exterior, enquanto as maiorias juvenis recebem menos recursos (no máximo, bolsas de centenas de reais) que não os puxa do abandono, da ignorância e da margem.
Há que repensar, enfim, no que se quer combater/reduzir no Brasil (porque no mundo acho uma tarefa audaciosa) e onde começar. Já que o tema que abordo neste texto trata da pobreza, creio que os programas governamentais atuais visam ao pequeno ramo que nasce torto numa árvore. Portanto, estes programas (mais ainda por contar com parceria do Banco Mundial), estão distantes de promover uma mudança estrutural no Brasil como fizeram ideias que emergiram da CEPAL durante as primeiras décadas depois de sua fundação.
O combate à pobreza não começa na caridade de dar comida aos indigentes, mas na mudança da mentalidade pobre de dirigentes deste país, que se articulam entre eles para cumprir formalidades burocráticas no "sistema”, garantir seus salários e contar ao mundo sobre conquistas que não tivemos.
http://www.brunoperon.com.br

quinta-feira, março 20, 2014

Marco Civil da Internet. Por trás da disputa política, a força das Teles

ihu
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/529412-por-tras-da-disputa-politica-a-forca-das-teles


Marco Civil da Internet. Por trás da disputa política, a força das Teles

De olho no financiamento eleitoral, PMDB defende interesse das Teles no Marco Civil da Internet e se une à oposição para derrotar governo; projeto coletivo pode ficar desfigurado. 
A reportagem é de Felipe Seligman e publicada pela Agência Pública, 19-03-2014.
No dia 6 de novembro do ano passado, a bancada do PMDB, segunda maior da Câmara, se reuniu no Congresso Nacional para ouvir com exclusividade o que Eduardo Levy, diretor executivo do Sindicato das Empresas de Telefonia (Sinditelebrasil), tinha a falar contra o projeto do Marco Civil da Internet, que já naquela época trancava a pauta da casa. Uma didática exposição concentrava as principais críticas sobre a tão falada neutralidade da rede e defendia a desnecessidade de um projeto sobre o assunto.
Diante das informações prestadas, o deputado Fábio Trad (PMDB-MS) levantou a mão. “A pergunta que eu faço aoLevy é a seguinte: se hoje nós temos uma desigualdade, afinal de contas todos pagam em tese o mesmo por serviços diferentes, existe algum estudo que demonstre prejuízo financeiro às empresas, às Teles, por exemplo, em virtude dessa igualdade diante de serviços diferentes?”
A resposta veio em seguida. “Não é que o projeto provoque prejuízo às Teles. O que está em jogo ai é que o projeto provoca uma necessidade de investimento maior para manter o nível de serviço igualitário, que acarretará, ao fim, no aumento do custo para o usuário”, afirmou um convicto Eduardo. Não o Levy, como seria de se esperar, mas Eduardo Cunha, líder do PMDB na Câmara, e apontado como o mais ferrenho defensor dos interesses das empresas de Telefonia nessa questão.
O objetivo da palestra de Levy era municiar os deputados peemedebistas para o debate que ocorreria naquele mesmo dia, à tarde, também convocado por Cunha, com a Comissão do Marco Civil. O encontro entre a bancada e o representante das Teles, disponível no Youtube, demonstra bem o grau de confusão de interesses na bancada do Marco Civil da Internet, que se agravou com a disputa política entre PMDB e o governo Dilma durante a votação do projeto neste ano, seguidamente adiada.
Marco Civil, como o próprio nome diz, refere-se à criação de princípios básicos, uma espécie de Constituição de direitos e deveres fundamentais a serem seguidos no mundo digital. Trata-se de uma matéria que envolve interesses complexos e difíceis de serem equacionados. Algo que, por mais técnico que pareça, terá repercussão direta na sua sua vida e na dos 100 milhões de brasileiros conectados.
As regras a serem definidas no Marco Civil terão repercussão direta na vida dos brasileiros – não apenas dos já conectados na dos que ainda irão se conectar. Também afetarão instituições tão diversas quanto as próprias empresas de Telecomunicação, como Oi, Telefônica ou Tim; os provedores de conteúdo, entre eles Google, Facebook; a sociedade civil organizada; a Polícia Federal e o Ministério Público; e até mesmo as relações internacionais do governoDilma Rousseff.
O histórico da lei da internet, feita pela internet
O projeto que está para ser votado, e que corre o risco de ser desfigurado no Congresso, é resultado da mobilização da sociedade e de um processo democrático acompanhado de perto pela pesquisadora Juliana Nolasco, da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Ela trabalhou no Ministério da Cultura, que participou do início do processo de elaboração do Marco Civil, e atualmente, já fora do governo, finaliza uma dissertação de mestrado sobre o tema. Para nos guiar ao longo dessa reportagem, ela destacou alguns momentos-chave da discussão.
O primeiro aconteceu em 2007. Na época, o então senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) reuniu propostas em torno de um projeto de lei que previa uma série de crimes em informática. A opção do legislador era, portanto, iniciar a regulamentação da Internet por meio da criminalização de condutas.
“O Brasil tem uma tradição de regular primeiro o crime. Para se ter uma ideia, a primeira lei brasileira que tratou sobre direito autoral foi o Código Penal do Império”, diz Ronaldo Lemos, professor de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio e do Creative Commons Brasil.
Lemos, uma figura emblemática em todo esse processo, foi o primeiro no Brasil a defender a regulamentação civil, antes da penal, no universo digital. Ainda em 2007, publicou um artigo intitulado “A internet brasileira precisa de um Marco Civil”, no qual defendia que antes de criminalizar condutas, seria necessário elaborar um texto de princípios, o que nos Estados Unidos é chamado de “bill of rights”.
O projeto de Azeredo continuou na pauta nos anos seguintes. Em 2009 já havia sido aprovado por uma série de Comissões da Câmara e estava pronto para ser ser votado em plenário. 
Ativistas da internet, encabeçados pelo sociólogo Sérgio Amadeu e pelo publicitário João Carlos Caribé, iniciaram uma ampla campanha contrária ao projeto, convocando reuniões e abrindo o debate na rede. O Projeto Azeredo, que defendia penas de até 4 anos de prisão por condutas genéricas, como invasão de sites (cuja interpretação poderia até mesmo penalizar alguém que copia o texto de um site e reproduz e seu blog), ganhava ali a pecha de “AI-5 digital”, em referência ao ato institucional da governo militar que, em 1968, suspendeu direitos constitucionais e endureceu de vez o regime ditatorial que havia se instalado em 1964.
A campanha chamou a atenção do governo e a tramitação foi momentaneamente paralisada na Câmara. No meio de 2009, o então chefe de gabinete adjunto do presidente Luiz Inácio Lula da SilvaCezar Alvarez, convidou um grupo formado por estudiosos e ativistas da rede, como Marcelo Branco, por exemplo, assim como defensores da Lei Azeredo, entre eles representantes da Polícia Federal, para conversar sobre o assunto. “Ele [Alvarez] nos disse que o projeto estava parado, mas o governo precisava de uma alternativa. Foi então que defendemos a necessidade do Marco Civil”, conta Lemos, que também participou da reunião.
Alvarez comprou a ideia e a vendeu para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pouco tempo depois, no final de junho de 2009, Lula foi a Porto Alegre participar do Fórum Internacional do Software Livre e, em discurso simbólico, defendeu que, em seu governo, seria “proibido proibir”, instando, naquele mesmo pronunciamento, o então ministro da Justiça, Tarso Genro, a elaborar um anteprojeto de lei a ser enviado ao Congresso.
Genro passou a bola para a equipe do então secretário de Assuntos Legislativos, Pedro Abramovay, jovem advogado que aos 28 anos chegou a assumir interinamente o Ministério da Justiça.
A primeira decisão de Abramovay foi elaborar o texto de forma colaborativa. Ele convidou Lemos, na época ainda na FGV-Rio (Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro), que ficou responsável por montar uma plataforma digital, hospedada no culturadigital.br, possibilitando a participação de todos os atores interessados no tema.“Decidimos que o melhor caminho seria escrever a lei da internet pela internet”, conta Lemos.
E assim foi feita a lei. Um primeiro texto foi apresentado em 2010, e depois de mais 2 mil contribuições de atores tão diversos quanto Google, Polícia e ativistas de software livre, o projeto ficou pronto em 2011 para ser enviado ao Congresso. Essencialmente, o texto final reafirmava que a internet é um espaço livre, onde prevalece a liberdade de expressão, a liberdade de acesso à informação, garantindo a privacidade dos seus usuários, cujos dados só podem ser expostos por meio de autorização Judicial.
“É uma história curiosa, porque quem participou do debate está junto nesse processo, desde a Polícia Federal até os provedores de internet. Essa aliança que apoia o texto do Marco Civil é improvável e foi forjada graças às conversas”, lembra Abramovay.  ”No começo, as posições do GoogleUol e do pessoal de software livre eram muito diferentes. Mas conseguiram se juntar, porque viram que tinham vários interesses em comum”.
Molon: buscando consenso
O anteprojeto de lei chegou ao Congresso em 2011 e uma comissão especial foi montada para analisar o caso. Como relator foi escolhido o deputado Alessandro Molon (PT-RJ), jovem professor de história que ganhou popularidade na comunidade católica carioca com um programa chamado “Deus é dez” e entrou para política com bandeiras ligadas aos direitos humanos.  
O assunto na época não estava entre as prioridades do governo Dilma Rousseff, ocupada em lidar com as primeiras dificuldades com sua base de apoio no Congresso. Molon decidiu continuar o diálogo com a sociedade e reabriu os debates, promovendo sete audiências públicas e seminários, que reuniu 62 palestrantes de dezenas de instituições das mais diversas áreas. As sugestões para o texto também vieram por meio de redes sociais como o Twitter.
“O que o Molon fez foi muito legal. Ele não abriu para a sociedade como se estivesse fazendo outro processo. Ele reconheceu o processo anterior e continuou a conversa”, diz Abramovay. Desde o início, porém, o deputado percebeu que empresas de telecomunicação, com forte presença no Congresso, institucionalmente representadas peloSinditelebrasil, dirigido por Eduardo Levy – aquele da palestra para a bancada do PMDB – eram contra a elaboração de um projeto, ainda mais se ele defendesse a neutralidade da rede como princípio.
A neutralidade garante igualdade de acesso aos conteúdos da internet para todos os usuários, impedindo as teles de oferecer pacotes diferentes conforme o valor pago. O que as empresas querem é exatamente o oposto: poder cobrar por um serviço apenas de vídeo, ou apenas de texto, ou mesmo diferentes velocidades a depender do tipo de conteúdo acessado, estabelecendo preços diferentes. O argumento é que, ao possibilitar que o usuário escolha o pacote que quer, o serviço é prestado de forma mais barata e mais efetiva.
Consciente da oposição de interesses, Molon tentou construir um projeto que obtivesse o apoio dos mais diversos partidos, mesmo que isso significasse fazer algumas modificações. Para agradar o DEM e o PSDB, por exemplo, que continuavam a defender a questão criminal em aliança com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, inseriu um artigo que obriga os provedores de conteúdo a guardar por 6 meses todos os logs, registrando o que cada Endereço IP — identificação de cada computador em uma rede — acessou na Internet. 
Isso que desagradou outros interlocutores. A guarda das informações, por exemplo, foi criticada pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor): “há um problema a ser atacado no último relatório do Marco Civil. O artigo 16, que prevê a guarda obrigatória dos registros do que o usuário acessou na Internet, mesmo sem qualquer conduta suspeita, é uma afronta à privacidade. Essa obrigação reforma a postura de vigilância em massa que o Estado brasileiro deveria combater, não reproduzir”.
Além disso, especialistas afirmam que tal medida poderá inibir a existência de sites que permitem o vazamento de informações relevantes ao público, como faz a organização Wikileaks.
Molon diz que as críticas não têm fundamento. Segundo ele, as empresas que guardam o acesso aos sites não possuem forma de saber informações sobre determinados IPs — que só podem ser identificados pelos provedores de serviços (Teles). “A lei, no entanto, proíbe que um fale com outro, ou seja, quem tem a informação dos sites acessados não sabe quem os acessou e quem tem a informação sobre o usuário não sabe que o que ele acessa. A menos que tenha uma ordem judicial”, explica o deputado.
Efeito Snowden
Polêmicas à parte, o processo corria em ritmo lento na Câmara. A Internet ainda não estava na pauta do dia nem do governo, nem do Congresso. Só assuntos externos atraíam a atenção para essa discussão, como o vazamentos de fotos íntimas da atriz Carolina Dieckmann, em 2012, após uma invasão de seu computador, reforçando os que defendiam a criminalização do condutas na internet. Assim, a Lei Azeredo voltou tramitar. A mobilização contra ela persistiu e o deputado Paulo Teixeira apresentou uma versão substitutiva. O novo texto (Lei Carolina Dieckmann), que acabou sendo aprovado e já está em vigor, foi aprovado sem pelos menos 10 artigos que constavam na antiga lei, esvaziando exatamente os pontos que eram alvo de críticas.
Mas o fator que mudou definitivamente os rumos do Marco Civil ainda estava por vir. A partir de junho de 2013, o ex-agente da Agência de Segurança Nacional (NSA – sigla em inglês) dos Estados Unidos, Edward Snowden, passou a revelar, por intermédio do jornalista Glenn Greenwald, que mora no Rio de Janeiro, e da documentarista Laura Poitras, diversos documentos que demonstravam as dimensões espetaculares de um monitoramento cibernético ilegal promovido pelos americanos contra cidadãos, que também envolviam a quebra de privacidades de outros governos, entre eles do Brasil.
A papelada divulgada em outubro mostrava que a NSA monitorou ilegalmente emails de empresas brasileiras e de outros países, além de correspondências dos próprios chefes de Estado. Entre eles, Dilma Rousseff.
A presidente brasileira reagiu publicamente. Cancelou uma visita oficial que faria a Barack Obama e dias depois, na abertura da Assembleia Geral da ONU, fez um duro discurso, criticando a espionagem promovida pelos Estados Unidos e defendendo uma regulamentação internacional sobre o tema.
Marco Civil ganhou relevância e o governo brasileiro passou a aspirar uma projeção internacional, liderando a regulamentação sobre o assunto. Ganhou um novo trunfo ao ver o Brasil ser escolhido como sede da Reunião Multissetorial Global Sobre o Futuro da Governança da Internet, marcada para os dias 23 e 24 de abril em São Paulo. A questão passou a ser o que mostrar no encontro que terá a participação de ministros de mais de 20 países, além de acadêmicos e representantes da sociedade civil, com o intuito de começar a construir essa regulamentação internacional.
A partir de outubro de 2013, o Marco Civil começou a tramitar em regime de urgência na Câmara a pedido da própriaDilma Rousseff, que passou a fazer exigências a Molon e realizar seguidos e longos encontros com ele no Palácio do Planalto. Um dos pedidos feitos por ela foi inserir no projeto um artigo que obrigasse os grandes provedores de conteúdo a construir data centers [central de dados] no Brasil, como uma forma de garantir a privacidade das informações que transitam por aqui.
A medida, um tanto polêmica, desagradou os provedores, como Google ou Facebook, e foi criticada inclusive por especialistas da área. Dificilmente será aprovada e já existe consenso dentro da Câmara de que seja analisada separadamente do texto principal.
Quem melhor explica a inconveniência da medida é o próprio Ronaldo Lemos: “Apesar de ser bem intencionada a medida é pouco eficaz e pode, além de encarecer a internet no Brasil, afastar grandes empresas do país. Um data center é como um grande armazém. Se ele está no meio de grandes rodovias, com várias pistas e muito tráfego, faz sentido construí-lo, mas se está em uma pequena estrada, o máximo que vai fazer é atrapalhar o trânsito”, diz. “Uma coisa é construir a infra-estrutura de rede e atrair data centers para o Brasil, a outra é criar uma obrigação”.
O poder das Teles
Dentro do Congresso, porém, essa é uma questão menor. O que pegou mesmo foi o fato de Dilma ter encampado a neutralidade da rede como um princípio a ser defendido por seu governo.
Diante disso, as Teles começaram a agir. Multiplicaram-se as reuniões e conversas reservadas entre deputados e representantes das empresas, a fim de convencê-los a não aprovar o projeto. O encontro do dia 6 de novembro é apenas um exemplo.
O descontentamento foi reverberado dentro do Congresso por uma figura central, exatamente o líder peemedebistaEduardo Cunha, que tem relação histórica no setor. Ele foi presidente da Telerj, então estatal do Rio de Janeiro, que fazia parte do sistema Telebrás, privatizado no final dos anos 90. Processo licitatório, por sinal, que ficou marcado por fortes suspeitas de um esquema para direcionar o resultado a um consórcio liderado pelo Banco Opportunity, de Daniel Dantas.
Na ocasião, a Telerj foi adquirida pela Telemar e posteriormente virou a Oi, empresa que, hoje, tem presença constante no Congresso Nacional. Durante a tramitação do Marco Civil, seus gerentes trabalharam em conjunto com o sindicato representativo das empresas na tentativa de derruba-lo.
Nos bastidores do Congresso, deputados e seus assessores chegaram a comentar, reservadamente, que a atuação da Oi é uma das mais evidentes contra o Marco Civil. Parlamentares passam a falar, por exemplo, que uma votação favorável ao texto do Marco Civil poderia colocar em risco possíveis doações de campanha para as eleições deste ano.
As principais teles não podem doar, por serem concessionárias de um serviço público, mas empresas ligadas a elas são sim grandes doadores. A Oi é o melhor exemplo. Entre seus acionistas está, além de fundos estatais como BNDESPar, Previ e Funcef, a Andrade Gutierrez (representada pela AG Telecom), umas das empreiteiras que mais faz doação de campanha. Para se ter uma ideia dos valores envolvidos, a construtora doou para campanhas do PMDB de Eduardo Cunha um total de R$ 20,6 milhões e R$ 14,8 milhões em 2010 e 2012, respectivamente, segundo dados do TSE(Tribunal Superior Eleitoral).
Diante de tal movimentação, a presidente acionou dois ministros para negociar diretamente com as Teles e tentar chegar a um acordo: José Eduardo Cardozo (Justiça) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Pouco antes do carnaval, eles se reuniram com Molon e representantes das empresas no Ministério da Justiça. Saíram de lá com um discurso que parecia caminhar para um acordo. As Teles abririam mão da neutralidade, mas o governo inseriria na justificativa do projeto de lei uma observação dizendo que as empresas poderiam continuar oferecendo planos com velocidades diferentes, sem diferenciar o conteúdo mas garantindo a manutenção do que já existe.
Tudo parecia certo até que a crise política se instalou.
Marco Civil em segundo plano
“Infelizmente, o Marco Civil virou acessório. A questão agora é governo contra o PMDB”, resume Pedro Abramovay.
Insatisfeitos com o que consideram um pequeno espaço no governo, ao menos 9 partidos da base (PMDB, PP, PSD, PDT, entre outros) formaram informalmente o “blocão”, com mais de 250 deputados, pressionando por novos Ministérios e pela liberação de emendas indicadas por eles referentes ao ano de 2013.
A principal liderança do blocão é exatamente Eduardo Cunha, que de três semanas para cá passou a atacar o PT e a presidente Dilma, ameaçando inclusive romper a aliança entre os partidos. Disposto a promover derrotas ao governo, começou a reunir colegas para derrubar o Marco Civil. Fatores políticos, portanto, passaram a reforçar sua posição tecnicamente contrária ao projeto.
A articulação colocou em risco o que havia de consenso em torno do assunto. Partidos de oposição que eram favoráveis ao Marco Civil, como o PSDB e DEM, passam a vê-lo de forma política também. Afinal, derrotar a presidente Dilma no que lhe é de mais caro, em ano eleitoral, passou a ser mais interessante.
Com a crise política instaurada, as chances de derrota ainda são altas, mesmo com concessões feitas pelo governo, como a promessa de nomeação de peemedebistas para Ministérios. Semanalmente, o projeto é pautado para ser votado, mas sem a certeza de que irá passar o governo dá um passo atrás e adia. Na semana passada, após uma reunião de líderes,Molon afirmou que “ambiente político”não está propício para a análise do tema. Naquele mesmo dia, o plenário da Câmara aprovou a criação de uma comissão interna para investigar a Petrobrás, derrotando o Planalto. No dia seguinte, deputados decidiram convocar ou convidar dez ministros, além de Graça Foster, presidente da empresa, para prestarem esclarecimentos sobre mais diversos assuntos, com a intenção de constranger o governo.
Nesta semana, Eduardo Cunha chegou a ir até o Palácio do Planalto na tentativa de iniciar um acordo. O impasse continua.
Diante da possibilidade de uma derrota, a sociedade civil voltou a se mobilizar.  O músico e ex-ministro da Cultura,Gilberto Gil criou uma petição no site Avaaz alertando para os riscos do fim da neutralidade e, em uma semana, conseguiu mais de 330 mil assinaturas.
A insensibilidade do Congresso diante da demanda social por liberdade na internet frustra as expectativas de quem participou do processo de criação do Marco Civil desde o começo. “A mensagem que o Congresso passa é de descompromisso. De que não existe um plano sobre onde queremos chegar. Muito triste ver o Congresso capturado por uma agenda de curtíssimo prazo, casuística, deixando a agenda de longo prazo para escanteio”, avalia Lemos.

Artista desenha pinturas corporais hiperrealistas em campanha “Meu Corpo, Meu Direitos”

forest


http://www.forestcom.com.br/blog/artista-desenha-pinturas-corporais-hiperrealistas-em-campanha-meu-corpo-meu-direitos/?utm_source=Forest+Comunica%C3%A7%C3%A3o&utm_campaign=0fc42cc7cb-Newsletter1_31_2013&utm_medium=email&utm_term=0_c96e1559ca-0fc42cc7cb-27045305

Artista desenha pinturas corporais hiperrealistas em campanha “Meu Corpo, Meu Direitos”

meus direitos
A Anistia Internacional lançou quatro vídeos para a campanha “My body, My Rights”(Meu Corpo, Meus Direitos), defendendo os direitos básicos do ser humano e a autonomia das pessoas para tomar decisões sobre a própria saúde, corpo e vida sexual .
Nos quatro filmes, sem palavras, a artista japonesa Hikaru Cho desenha pinturas corporais nos modelos e os impressionantes desenhos falam por si só. Cho, que tem apenas 19 anos, usa pinturas hiperrealistas para criar ilusão de ótica, como pode ser visto no site da pintora.
Abaixo você confere os quatro vídeos da campanha e o que eles dizem:
“Você tem o direito de conhecer e aprender sobre o seu corpo, a saúde sexual e as suas relações”.
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“Você tem o direito de escolher o seu parceiro”
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“Você tem o direito de escolher se, ou quando, quer ter filhos.”
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“Você tem o direito de viver livre de estupro e violência sexual”

terça-feira, março 18, 2014

MANIFESTO UNIVERSAL DOS POETAS DO MUNDO

poetas del mundo
http://www.poetasdelmundo.com/detalle_manifiesto.php?id=2828


MANIFESTO UNIVERSAL DOS POETAS DO MUNDO

Poeta, se voce conhece o objetivo do nosso movimento “Poetas do Mundo”, o mesmo que o nosso “Manifesto Universal” e queira ser fiel a seu compromisso, te receberemos como a um irmão com a mesma paixão de mudar o mundo com palabras, como uma manifestação suprema de sua arte e que seja esta a cheve para mudarmos o mundo e a historia. 
MANIFESTO UNIVERSAL DOS POETAS DO MUNDO
Poetas do Mundo é chegada a hora exata para unir nossas forças na defesa da continuação da vida: Somos Guerreiros da paz e mensageiros dessa nova etapa da humanidade. Somos os poetas da luz e essa luz é o veículo que nos conduz nessa chamada de alerta e por motivo nenhum devemos deixar de estarmos presentes. Vivemos atualmente o processo de morte de uma etapa degenerada e asistiremos o nascimento de uma NOVA ERA na qual nós poetas temos um rol determinante de estarmos presentes.

A humanidade vive momentos decisivos onde lutam por sobreviver: Seguimos para a beira de um precipicio que nos conduz a extinção ou mudamos o leme numa trajetória para a superação coletiva que nos assegure uma grande subsistencia.
Desde os mais remotos tempos em que o homem possa recordar, a existencia humana tem se confrontado en coexistir com o meio ambiente, que lhes foram asegurados e seguem asegurando a possibilidade de viver. Mas ao mesmo tempo e paradóximente o homem em seu afã de ser mais, de crecer e crecer, vindo   deteriorando o planeta até levar-lo ä limites colocando em perigo a possibilidade de seguirmos existindo como especie. Se o Homem nao muda o rumo, ¡E AGORA!, as próximas geraçães terão solidas razões para odiar-nos.
Por outro lado, neste mesmo contexto de querer sempre MAIS, não só usam dos meios materiais do planeta para crecer e subsistir, sendo também  que os meios humanos, arrastando-nos para a desesperada e criminosa competencia entre os homens a tal ponto que hoje estamos  matando-nos uns aos outros para sobreviver, para crecer ou simplesmente para dizer: SOU, quer dizer mais, mas ¡SOU! Ou sou mais que voce...
Assim como deterioramos o planeta constantemente com o uso abusivo dos recursos naturais e humanos, assim que se constroem armas de destruição em grande escala, capazes de destruir toda a humanidade em poucas horas e a supremacía do poder concentra-se sempre nas mesmas mãos, ao qual conhecemos como imperio(s)
Mas, nem tudo é negativo, porque o caos moral, o caos político (guerras infames), o caos economico ( coisas absurdas) nao passam de manifestações do “PARTO DA HISTORIA” assim como uma mulher dá a luz a um bebe; morre esta etapa e surge outra de seu seio.

1- Diante deste afan de dominio absoluto que nos poderia levar inevitablemente a auto destruição e diante de tamaña barbaridade. E a luz de novos tempos que se anunciam, Os Poetas do Mundo emprenderemos ao caminho do protesto, por um lado e ao da contrução de um novo amanhecer, que conducirá a libertação definitiva do homem.
2 – Os Poetas do Mundo, não todos, somente os Poetas do Mundo, porque não todos os poetas do mundo estamos dispostos a dizer: não sou, SOMOS. Os que estamos dispostos a abandonar o EGO que nos esta matando e somos capazes de olharmos com IGUALDADE, iniciamos a cavalgada coletiva através do mundo e colocarmos a arte da poesia a serviço da humanidade
3 – Ser poeta não significa somente escrever bonitas poesias, temos que VIVER-LA e viver-la não significa somente sentir-la, temos que praticar-la e praticar-la é uma coisa de todos os dias, de sempre enquanto tivermos cabeça para pensar e coração para sentir.
4 – Ser Poeta do Mundo é ainda algum mais difícil, ser Poeta do Mundo é asumir este manifesto em sua parte mais esencial; é asumir a defesa da vida, do amor, da diversidade, da liberdade e ser capaz de dizer: dou minha vida pela VIDA, ainda que amo minha vida. por isso é que dizemos BASTA de estupidez, BASTA de EGOS que não contribuem ao crescimento coletivo, nem pessoal e botemos a arte da poesia a servico da existencia da humanidade..
5 – Ser Poeta do Mundo é ser um guerreiro, uma guerreira, que galopa pelas lanurias da existencia humana, como fiz na noite do tempo, em busca da perfeição e o crescimento lícito da vida, enquanto se vive com as vestimentas  e as condições que temos para fazer-lo. E é por iso que não seremos pasivos diante dos crimes que se cometen diariamente em nome da liberdade, levantemos nossas vozes como um raio de luz e faremos tremer aos covardes, porque a palabra é a melhor arma que amedronta aos assassinos que conhecemos ao largo de nosa historia.
6 – Reconhecemos o valioso aporte dos poetas do mundo ao crescimento da humanidade através de séculos. Á aqueles que deixaram seus nomes marcados e nos centenarios livros da historia universal e na memoria coletiva dos homens, assim como também  reconhecemos o aporte dos poetas anónimos, poetas que passaram pela terra cumprindo suas missões legendarias através dos tempos. Cremos no valor que significaram estas majestosas contribuições em seus tempos, inclusive hoje, mas estamos a beira de uma nova etapa para a humanidade, assim, os Poetas do Mundo do século XXI não queremos enraizar com o passado para melhor olharmos o presente e o futuro. Os Poetas do Mundo deste século estamos sendo chamados a sermos criativos para com maior imaginação encontrar as respostas e explicações que HOJE a humanidade brada ante o evidente descalabro que estamos vivendo.
7 – Os Poetas do Mundo nos declaramos todos iguais, os consagrados e os menos conhecidos, os famosos e os anónimos, os ricos e os pobres, os brancos e os negros, os mesticos e os amarelos, sempre e quando se situem neste lado da vida, empunhando as mesmas espadas para combater o que mata a vida, lutando corpo a corpo na mesma barricada para defender a JUSTICA (unica para todos), a IGUALDADE (efetiva entre todos os habitantes da terra), a LIBERDADE (a verdadeira, não a artificial) e o DIREITO dos povos existirem e viverem em paz.
8 – Os Poetas do Mundo declaram qualquer espaço onde possam estar ou ser, como se fosse suas proprias arenas, para combater o mal, seja em palacios de poder ou numa miseravel caverna do mundo, nos campos onde trabalham os campesinos ou no fundo de uma mina onde se suga o sanque do mineiro, porque o poeta nao deixará de ir en qualquer lugar , levando nossa palabra, como se fosse uma chuva sobre a terra, fazendo seu espetaculo de graça, como se fossem flores para os olhos da humanidade. O Poeta será a luz que guiará o guerreiro como dunas na escuridade da noite.
9 – Os Poetas do Mundo nos declamos pacifistas, mas não covardes e pasivos, ante-militaristas, mas de nenhuma maneira ingênuos. Sentimentalistas por natureza porque a expressão artística, a tinta da escrita é o sangue de nossas almas. Vivemos atrapados pela embriaguês do encanto artístico, até uma vertigem dolorosa da criação. Mas esta criação terá sempre um objetivo determinado: APERFEIÇOAR A VIDA”, a nossa (individual), a de todos (coletivamente). Somos pacifistas em busca da paz universal, mas A PAZ não chega do nada, temos que ganhar-la, lutar por ela. Para isso somos Guerreiros. E a PAZ não existe se não há JUSTIÇA. A PAZ somente haverá quando reine primeiro a justiça, porque ela apenas reinará com justiça, porque a PAZ é uma consequencia da justiça. Ou será o que está sendo agora no reinado dos Imperios: PAZ DE CEMITERIO.
10 – Para ser Poeta do Mundo tem que estar disposto a aperfeicionarse sempre, a crecer diversivicadamente e aceitar a pluridade como aceitamos a complexidade da existencia. E no Batalhão dos Poetas do Mundo haverá espaço sempre para lutar, para os que creem ou não, ateos ou religiosos, justos  ou equivocados, mas deste lado da VIDA. Heterosexuais, bisexuais ou homosexuais, mas todos amantes do AMOR nobre, guerreiros de outrora ou combatentes modernos, mas sempre militantes do BEM e fidelidade. A grande cadeia humana que possa unir ao mundo, correntes por correntes, estará conformada por poetas repartidores de esperança e sorrizos nesta luta que dura  desde a aurora dos tempos.
11 – O homem buscará um terceiro por suas culpas, nossa reta é que cada qual asuma sua esencia, em seu proprio espírito, sem ter que acudir ao terceiro para acalar seus erros e derrotas. Nossa esperança é alcansarmos  através da palabra, acender o verbo nos corações de cada um, o verso das montanhas, a noite sigilosa da alma, o envólucro cuidadoso do ventre da natureza,  ver o amanhecer, para que cada um alce sua alma com amor, com palabras. A Poesia e do mundo e nós somos dela.



Poeta do Mundo,
¡Una-se a esta batalha pela existencia humana!
¡Converta-se no leme necesario para que continue a VIDA!


Luis Arias Manzo
(Secretario General)

Santiago de Chile, diciembre 2005

quinta-feira, março 13, 2014

O primeiro comercial de maconha na TV

OP
http://outras-palavras.net/outrasmidias/?p=16771

O primeiro comercial de maconha na TV

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Em estados norte-americanos onde consumo medicinal foi liberado, anúncio realça argumento antiproibicionista: legalização é única saída contra controle da droga pelo crime
Por Camilo Rocha, em OEsquema
Estreou nos EUA o primeiro comercial de TV de maconha. É da Marijuana Doctors, portal especializado em cannabis medicinal.
No anúncio, um traficante oferece sushi e sashimi em um beco para ilustrar a mensagem de que não vale a pena comprar maconha de fornecedores não confiáveis. “Você compraria sushi de qualquer um?”, diz a narradora.
Está aí grande parte do sentido da legalização, acabar com o mercado paralelo. Se as pessoas pudessem conseguir sua maconha em um estabelecimento regularizado e seguro, para que continuariam se arriscando em comprá-la ilegalmente, muitas vezes de bandidos armados e perigosos?
A peça publicitária foi liberada pela operadora de TV paga Comcast, a maior dos EUA, para veiculação nos canais Fox, CNN, ESPN, Comedy Central, AMC e Discovery. Mais mainstream que isso, impossível. Mas com limites, claro: o comercial só pode ser veiculado entre 22h e 5h e nunca em intervalos de programas infantis.
O futuro está chegando, acostume-se.

Comer, ato revolucionário?

OP
http://outraspalavras.net/blog/2014/03/12/comer-e-o-comeco-ou-a-meta-esta-na-mesa/

Comer, ato revolucionário?

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Refletir sobre o que nos alimenta pode nos levar a rebeldias como reforma agrária, mercados de agricultores, jardins operários, “slow food”, permacultura e agricultura florestal
Por Satish Kumar | Tradução Josemar Vidal Jr., editor de Tautologia Total
A comida é um microcosmo de um macrocosmo. Comer alimentos apropriados é parte da solução de problemas como as mudanças climáticas e a fome no mundo. Na tradição cristã, festejar no Natal e jejuar na Quaresma são símbolos significantes da relação estreita entre as pessoas e os alimentos, entre liberdade e comedimento, entre celebração e solitude.
Mas festejar e jejuar não são opostos: são complementares. Quando nós praticamos a liberdade de um banquete e somos pessoas habituadas à pratica do jejum, muito provavelmente vamos aproveitar a festa sem abusos.Jejuar é uma grande habilidade. Quando, no romance de Herman Hesse, a bela cortesã Ka­mala pergunta a Siddhartha quais eram as suas qualidades para conquistar o seu amor, Siddhartha responde: “Pensar, esperar, jejuar”. Infelizmente, no mundo moderno, muitos de nós não sabem como esperar, como jejuar, ou, ainda, como banquetear.
Nós vivemos no mundo da comida congelada, junk food e pratos prontos. Esse é o mundo da produção em massa, dos empacotados e das redes de comercialização de alimentos. Esse é o mundo onde os conhecimentos e as técnicas de produzir comida foram esquecidos, e a arte de cozinhar é desvalorizada; onde o prazer de preparar as refeições em companhia é diminuído. Nós perdemos o controle das origens dos alimentos. Muitos não sabem dizer poucas palavras sobre como a comida é semeada, distribuída, tarifada, ou mesmo como é preparada.
O acesso à comida deveria ser um direito fundamental do ser humano, o alimento é um presente da natureza a todos. Alimentar as pessoas e todos os seres vivos é algo intrínseco à vida, à existência, mas, infelizmente, a comida tornou-se produto comercial e já não esta disponível à todos igualmente. O objetivo primeiro dos que trabalham com negócios alimentícios é fazer dinheiro, alimentar as pessoas se tornou algo secundário. Não admira vermos múltiplas crises, tais como o crescimento do custo dos alimentos, crescimento da obesidade, junto à malnutrição e fome.
O grande desafio com o qual precisamos nos deparar é percebermos o principal objetivo dos sistemas alimentares, que é suster a vida. A principal responsabilidade dos governos e dos homens de negócios é desenvolver políticas e práticas que atendam às necessidades alimentares de todos, em todo o mundo, ao mesmo tempo em que garantam a integridade e a sustentabilidade do planeta terra em si.
Cultivar, preparar e comer boa comida é um imperativo ecológico, e, como Thomas Morus muito bem pontua, a comida é mais do que apenas o combustível para o corpo; ela é fonte para a nossa nutrição espiritual, social, cultural e física.
As pessoas perguntam: “O que eu posso fazer para combater o aquecimento global, a degradação ambiental e as injustiças sociais?” A resposta dada por Thomas Morus e outros escritores é: “Vamos começar pela comida: vamos comer alimentos locais, orgânicos, sazonais e deliciosos. Vamos lidar com os alimentos com as nossas próprias mãos, e não deixar a sua produção apenas nas mãos das corporações.”
O ato de comer o alimento apropriado é parte da solução dos problemas de aquecimento global e fome. A comida é um microcosmo de um macrocosmo. Quando nós observamos as movimentações econômicas por trás dos alimentos vemos imediatamente a influência das corporações multinacionais, que transformam comida em produto, onde, da engenharia genética das sementes ao cultivo, o controle passou do homem do campo e dos agricultores para administradores e engenheiros. Se nos preocupamos com a agricultura industrial, agronegócio, terras cultiváveis, erosão do solo, crueldade com os animais, fast foodsfatty (gordurosas) foods, ou ainda, “não-foods“, temos que olhar para o nosso prato e o que esta nele. A comida em nossa dispensa e na nossa cozinha esta conectada com as mudanças climáticas, com a pobreza, bem como com a nossa própria saúde.
Uma reflexão profunda sobre o que comemos pode nos levar à reforma agrária, mercados de agricultores, Jardins OperáriosSlow Food, comida artesanal, permacultura, agricultura florestal e muito mais. Nós devemos transformar nossa relação com a comida como um primeiro passo em direção às transformações sociais, econômicas e políticas. O pessoal e o político são dois lados da mesma moeda, nós não podemos manifestar um sem o outro. Quando nós começamos no plano pessoal e caminhamos em direção ao político, então há integridade no que falamos, fazemos e pedimos para que os outros façam. É claro que não podemos parar na vida pessoal. Nós precismos nos comunicar, organizar e construir um movimento popular que pressione governos e empresas a efetuarem mudanças.
Será que estamos prontos pra “por a mão na terra”? Temos tempo para assar nosso próprio pão e compartilhar nossas refeições em companhias agradáveis? Se nós não temos tempo para cozinhar e comer adequadamente, então nós não temos tempo para viver. Como Molière disse: “É boa comida, não boas palavras que me mantem vivo”.

*Satish Kumar é fundador e diretor do Instituo Schumacher e reconhecido como um pilar da militância pacifista.